Espaço para interação de cidadãos e cidadãs interessados no debate de políticas públicas para a cultura no município de Santa Cruz do Sul

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

À propósito de algumas das questões levantadas pelo Joe Nunes sobre a função da arte e do artista, remeto vocês à matéria da revista IstoÉ desta semana sobre o projeto Paint a Future (e que está disponível, com fotos, em http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2048/artigo125304-1.htm).
Que fique claro que não endosso o projeto e que não tenho ainda nenhum juízo sobre ele. Penso apenas que é um bom material para pensar (como disse uma vez um grande antropólogo francês, "há coisas que são boas para comer e coisas que são boas para pensar").


Reportagens
Arte contra a pobreza
Sem governo ou ONGs, artistas vendem quadros para atender aos sonhos de crianças por Renata Cabral

O catarinense Rafael Cristiano Leite, 13 anos, vivia com mais sete parentes numa pequena casa de dois cômodos e sem banheiro. Quando ventava, parecia que o teto ia desabar. Seu pai, falecido no ano passado, deixou uma carta orientando a família a procurar o projeto Paint a Future (Pintar um Futuro), que, sem a participação de governos ou ONGs, transforma em realidade os desejos das crianças rabiscados em papel. Hoje, a casa azul de dois andares que Rafael desenhou tem paredes, teto e em breve será um endereço digno em Florianópolis (SC). "Agora tudo vai melhorar", aposta ele.

O Paint a Future, idealizado pela artista plástica holandesa Hetty Van der Linden, existe no Brasil há três anos. E começa a produzir melhorias concretas. Nos Estados de Santa Catarina e São Paulo foram construídas 15 casas, além de parquinhos e salas de informática. Realizaram-se também tratamentos médicos. Quando o sonho da criança é uma singela pipa ou uma bicicleta, os integrantes do projeto atendem, mas procuram a família para saber como ajudar mais. O projeto existe em vários países e, para Hetty, que já esteve na Argentina, Bulgária, no Chile e Marrocos, ele dá certo aqui por conta da grande pobreza aliada à vontade de ajudar: "Há uma diferença enorme entre os dois extremos da sociedade brasileira e acredito que a arte pode ser o elo entre eles."

Os anseios infantis captados pelo projeto, criado em 2002, variam de acordo com as carências. Na Bósnia, as crianças órfãs de guerra pediram famílias. Em Madagascar, o desejo foi por pratos de comida. No Brasil, os pequenos querem uma casa. Hetty percorre escolas e creches de comunidades carentes com tintas e folhas em branco e faz as ilustrações chegarem às mãos de um grupo de artistas internacionais, que transforma o material em obra de arte. São telas que, conforme o tamanho, são vendidas por R$ 6 mil ou mais e permitem transformar as vidas.



Cerca de 15 artistas internacionais que aderiram à causa de Hetty pagam a própria passagem para pintar no País. São nomes de vanguarda como Lorenzo Moya, do Chile; Jaan Elken, da Estônia; e Lone Seeberg, da Dinamarca. A cada ano, o time muda. Para Gregório Gruber, artista plástico paulista que participou da primeira edição do projeto no Brasil, o Paint a Future desperta a verdadeira essência da arte: "Não acho que ela deva servir sempre ao comércio e ao dinheiro. O projeto tem uma proposta inovadora." Quando não são vendidos no país de origem, os quadros vão para um ônibus que circula pelas cidades da Europa, como uma exposição itinerante. "Eu me sentia ridícula vendendo quadros, enquanto as crianças passavam fome nas ruas. Hoje, não mais", diz a artista, um exemplo de como fazer a diferença.

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